Nessa terça-feira, 29.11, fui à palestra obrigatória dos não operados do Instituto Garrido no Hospital Oswaldo Cruz. A palestra é ministrada pelo próprio Dr Garrido. Em consulta, ele só atende particular. Como já contei, passei por outro médico, o Dr Renato.
Garrido é um médico bem conceituado e, segundo informações e ele mesmo, ensinou outros médicos do Brasil no "início" da bariátrica por aqui. Como da técnica Fobi Capella que ele aprendeu com o próprio Capella. Aliás, lá eu aprendi que essa técnica é o bypass com anel, exclusivamente. Sem o anel, a técnica não pode ser chamada assim. A propósito, diz que hoje em dia nem se coloca mais esse anel pois é muito sofrimento para pouca aficácia.
Infelizmente, só pode levar um acompanhante. Achei isso muito ruim, acho que duas pessoas estaria ok. Quanto mais o nosso núcleo familiar conhecer sobre o procedimento, melhor. Enfim levei meu marido (que estranho! rs). E o pior, o auditório deve ter ficado com quase 50% vazio.
Mas traumático mesmo, foi essa poltrona: eu não cabia!! Foi muito difícil entrar e ficou machucando, fincando na perna, um horror! Todos os gordinhos estavam sofrendo. Até o próprio médico falou disso. Será que não existe outro?
Bom, começou pontualmente e eu achei muito boa. Bem melhor que a palestra do RR Médicos, estou pensando em até desmarcar a consulta lá. Gostei pois ele foi bem minucioso e falava calmamente. E, mesmo que muitas das informações sejam simples, achei educado que ele se preocupasse com que todos estivessem acompanhando, perguntando sempre: 'entenderam?'.
Não dá para escrever tudo, é muita informação. Mas vou me esforçar e tentar transmitir alguns pontos:
- grande porcentagem da população obesa ou operada desenvolve pedra na vesícula, mas não é viável já aproveitar de uma vez e tirar a vesícula no momento da operação se não há pedras. Pois estaria sendo retirado de uma população que nem chegará a desenvolve-las. Se a pessoa possui, o cirurgião pode decidir no momento da cirurgia bariátrica por videolaparoscopia de acordo com a fisiologia do paciente. Se há fácil acesso ou não.
- Eles já estão fazendo a cirurgia robótica, aquela que o cirurgião fica no canto da sala operando através do robô. A precisão é bem maior, mas é muito mais caro é usada apenas na minoria dos casos. Fiquei sem saber qual o critério para o uso. Tentarei lembrar de perguntar em uma consulta.
- A importância de estar com os dentes em perfeita ordem antes da cirurgia. Para que depois o paciente não opte por alimentos pouco ou nada nutricionais por serem mais moles ou menos fibrosos. Dispensando, por exemplo, a carne, tão importante para os gastroplastizados.
- O estomago do obeso não é maior do que o das outras pessoas!
- Perguntei a ele se existe algum estudo, pesquisa ou estudo clínico de uma pessoa que precisou daquele pedaço do estomago retirado no sleeve. Infelizmente, não devo ter me feito clara e ele não entendeu minha pergunta. Respondeu como se eu tivesse perguntado sobre a possibilidade de reversão da cirurgia. No sleeve não é possível. No bypass existiram casos de pessoas que estavam com cancer e por isso, muito debilitadas, precisando do estomago para tentarem comer o máximo que tivessem vontade e para os tratamentos radiológicos. Vendo que o Garrido tinha compreendido minha pergunta de outra forma, o moço do lado tentou me explicar (?), mas eu fiquei tão surpresa com a atitude dele que não consegui entender muito.
- Insistiu que a vantagem da videolaparoscopia é apenas na recuperação, nada de estética. Mostrou fotos de abdominoplastia em âncora que, segundo ele, a grande maioria precisa fazer. Mostrou fotos também de emagrecidos com aquele grande excesso de pele (fiquei triste e com um pouco de vergonha do marido de ele pensar (ou saber) que aquela também sou eu), e perguntou, o que é esse risquinho em meio a isso tudo? ...
- Meninas, essa me deixou passada: comer deitado não dá dumping!! Isso mesmo. Se você se empanturrar de doce deitada, não tem dumping. As pessoas reclamaram de ele ter contado esse macete. Mas segundo o médico, todos acabam descobrindo uma hora. Não que eu pretenda me entupir de doces, mas gostei de saber pois me sinto com um pouco mais de controle sobre meu futuro corpo.
- O Sleeve é uma técnica recente e por isso não há tantos estudos sobre ele. Disse que muitas técnicas se mostram um desastre depois de 4, 5 anos que começam a ser usadas. Tudo indica que ela veio para ficar, mas ainda assim, sem tantos estudos.
- Quem não come carne vermelha, não deve escolher o bypass. Eu não gosto muito de carne vermelha, mas estou tentando aprender a gostar e me acostumar.
- A quantidade de intestino que sobra para a comida passar no bypass é suficiente para absorver vitaminas. Mas naquele pedaço em que a comida passa a não ir, é o rincipal ponto de absorção de algumas vitaminas como o ferro. Por isso, é uma m$#&%%# ser mulher e sangrar todo mês.
- Se o paciente não está disposto a ingerir o máximo de 4 doses de álcool por semana, melhor nem fazer a cirurgia. Nenhuma técnica. Vai voltar a engordar. =( Não me recriminem, mas consumo bem (bem) mais que isso. Deixar esse hábito será uma das minhas grandes dificuldades. Será que consigo?
- Médias: Sleeve - perda de 1/4 do peso; Bypass - perda de 1/3 do peso.
- O médico só não coloca o dreno se a operação foi tão mega perfeita que ele acha que não vai precisar. Mas aí tem que ficar de olho. Qualquer coisa, opera de novo.
- O sucesso do bypass se deve a 3 fatores principais (resumidamente): diminuição do hormônio da fome, o caminho fica mais rápido ao final do intestino e ativa antes o hormônio da saciedade (GLP1) e pelo dumping.
- Os riscos cirurgicos. Como o da temidíssima embolia pulmonar em que, devido o pouco movimento especialmente das pernas, pode provocar um coágulo (trombo) do sangue e entupir a artéria, impedindo o sangue com oxigênio que precisa chegar ao pulmão, por exemplo. E nesse exemplo, é morte instantanea. Por isso, tão importante o uso daquela meia cirurgica com os mecanismos que inflam/desinflam fazendo massagem nas pernas e ir andar logo ao se recuperar da cirurgia. Além disso, eles dão anti coagulantes também, mas em uma quantidade menor da que pode causar hemorragia.
- Fiquei preocupada com duas coisas que ele falou diferente do médico do próprio Instituto: modo de fazer a endoscopia depois do bypass e que a grelina para de produzir o hormônio nesse procedimento.
- Gente, e as estatísticas?
Em 1800 cirurgias, 6 morrem por vazamentos no neo estomago e 2 por problemas pulmonares.
A equipe do Instituto Garrido faz por volta de 1000 operações por ano. Dessas, DOIS pacientes morrem.
Essa estatística me assustou muito.
Estava tudo indo bem e eu estava animada para a cirurgia. No final, ele:
Nem tudo são flores, trouxe vocês aqui para estarem cientes de duas coisa antes de fazer a cirurgia: que estarão assumindo o risco de morrer, e que precisarão de acompanhamento médico pro resto da vida. (...) Foi nessa hora que caí novamente no meu abismo de incertezas e medos. Pra mim, essa é a pior coisa da idéia da cirurgia. Tornar-me dependente de algo externo a mim: vitaminas e acompanhamento médico. Gente, eu posso ficar miserável e não ter um tostão pra fazer exame de sangue, ir ao médico. Eu posso cair de avião em uma selva. Não sei, pra mim é variável demais pra depender pra sobreviver. = (